A primeira onda

Eles haviam chegado em meados dos anos sessenta, ou algo aproximado disso, a memória já falha após um tempo. De qualquer forma, a primeira onda fora sutil para a humanidade, e somente se deram conta quando era tarde demais. Estavam todos fantasiados com o espetáculo natural que eram as auroras boreais que surgiam em diversos pontos do mundo, sendo uma reação daquele tipo atípica a maioria dos ambientes. Eles desceram do céu como chuva, e o contato a pele humana bastava para acessarem nosso bem mais precioso: O cérebro.  Foram batizados de hospedeiros, por motivos óbvios, e seu processo de controle levava exatas quarenta e oito horas para ser concluído. Durante esse tempo, mudanças drásticas ocorriam nos corpos das vítimas, tais como queda de cabelo, empalidecimento pungente, mudança da cor da íris, etc. Os hospedeiros nunca falhavam, digo, no sentido de tempo; a pessoa já estava à mercê deles em dois dias, sem atrasos, sem intervenções.

O que acontecia com os corpos? Não é correto dizer que estavam em sua consciência, e se a alma existe, ela não já estava mais ali. Olhavam de maneira vaga e seu modo de falar tornava-se arrastado e pesado, como se acabado de acordar. Nesse estado, de alguma maneira, o corpo deles tornava-se rijo e rápido, além adquirirem uma força descomunal. Era bizarro.
I
sso foi visto como um novo vírus — síndrome da apatia, pelo fato dos infectados sempre possuírem um rosto de indiferença a respeito de tudo — e os médicos da época, um tanto desleixados, buscaram um método de intervir para que os tais se adequassem a sociedade. Nada adiantou, obviamente, e os infectados aumentavam cada vez mais.

A primeira onda, numa explicação ampla, representa a chegada dos invasores. Um primeiro impacto. Pelo modo que tudo começara, só poderíamos julgá-los como seres micro-bióticos. Mas apenas uma pequena criatura foi capaz de desencadear o caos.